Regionalismo em Libras: conheça um pouco sobre as variações linguísticas pelo país 

Você sabia que existe regionalismo em Libras? Pois é, assim como a Língua Portuguesa tem variações conforme a região do Brasil, a Língua de Sinais também tem. 

Como acontece com os dialetos em línguas faladas, os surdos de diferentes regiões podem apresentar sinais específicos para conceitos ou palavras comuns que variam de uma localidade para outra. Por exemplo, o sinal para “futebol” em Libras pode ser representado de maneira diferente no Rio de Janeiro em comparação com São Paulo.

Além das diferenças de vocabulário, o regionalismo em Libras também pode se manifestar na gramática e na entonação dos sinais. As expressões faciais e a forma de movimentar as mãos podem variar sutilmente, criando nuances regionais na língua de sinais.

Continue a leitura e saiba mais sobre o tema!

O que é o regionalismo em Libras?

O regionalismo em Libras é um fenômeno linguístico que ocorre de forma semelhante ao que acontece em línguas faladas, onde diferentes regiões ou comunidades surdas desenvolvem variações na forma de se comunicar em Libras. 

Isso se deve, em parte, às influências culturais, históricas e geográficas que moldam a língua de sinais em diferentes partes do Brasil.

Exemplos de variações linguísticas em Libras: conheça alguns

Veja três exemplos de variações linguísticas em Libras que existem em nosso país:

1. o sinal usado no Sul para a palavra “branco” é igual ao que se utiliza no Nordeste para “brilho” ou “ouro”;

2. a palavra “solteiro” tem o sinal parecido, no entanto, a sinalização oposta de um para o outro;

3. “festa” no Nordeste se parece com a forma que é usada no Sul, mas de forma invertida. 

(Fonte dos exemplos: https://www.handtalk.me/)

Como você pode perceber pelos exemplos de variações linguísticas em Libras, podem ser observadas em várias formas:

  • variações na direção dos sinais: a direção em que um sinal é feito pode ser significativa. Em algumas regiões, a direção dos sinais pode ser diferente para certas palavras ou conceitos. Por exemplo, o sinal para “escola” pode ser feito em direções diferentes em diferentes áreas;
  • variações na expressão facial: a expressão facial desempenha um papel importante na comunicação em Libras, e as nuances na expressão facial podem variar regionalmente. Expressões faciais podem afetar o tom e o significado de um sinal;
  • variações na gramática: a estrutura gramatical de Libras pode variar sutilmente de uma região para outra. Isso pode incluir diferenças na ordem das palavras em uma frase ou na marcação de tempo e aspecto verbal.

Curiosidade: você sabe que há outros tipos de língua de sinais no Brasil, além da Libras? Entenda!

Em Várzea Queimada, uma comunidade de 900 moradores, no interior do Piauí, há uma grande incidência de pessoas que nascem surdas — cerca de uma a cada 25 crianças. 

Para melhor se comunicarem, eles usam uma língua de sinais própria, chamada Cena. A língua foi criada pelos próprios moradores e é utilizada tanto pelas pessoas surdas quanto pelas ouvintes. 

O alto índice de pessoas com a condição, segundo especialistas, se deve ao fato dos casamentos entre primos. Dessa forma, os genes são replicados rapidamente. 

Segundo artigo publicado no Brazilian Journal of Development, “[…] há estudos que versam sobre pelo menos 12 (doze) línguas de sinais utilizadas por comunidades surdas no Brasil […], divididas em três classificações: centros urbanos, aldeias e comunidades isoladas, classificadas também como língua de sinais nacionais, originais e nativas:

  • línguas de sinais nacionais:
    • centros urbanos:
      • Libras, língua de sinais oficial do país.
  • línguas de sinais originais:
    • aldeias:
      • língua de sinais Urubu –Kaapor – índios Urubu – Kaapor, no Maranhão;
      • língua de sinais Sateré-Waré – índios  Sateré – Ware, em Parintis, Manaus;
      • língua de sinais Kaigang –  índios Kaingang, em Xanxerê, Santa Catarina; 
      • língua de sinais Terena – índios Terena, no Mato  Grosso  do  Sul;
      • língua de sinais Guarani -Kaiowá – índios Guarani-Kaowá, no Mato  Grosso  do  Sul; 
      • língua de sinais Pataxó – índios Pataxó, em Aldeia Coroa    Vermelha, na Bahia.
  • línguas de sinais nativas:
    • comunidades isoladas:
      • Cena, em Várzea Queimada, no Piauí;
      • Acenos, em Cruzeiro do Sul, no Acre-Brasil;
      • língua de sinais da Fortalezinha, no Pará;
      • língua de sinais de Ilha do Marajó, no Pará;
      • língua de sinais de Porto de Galinha, em Pernambuco; 
      • língua  de  sinais de Caiçara, em Várzea Alegre, no Ceará. 

De acordo com a mesma publicação, os estudos sobre essas outras línguas de sinais são bem iniciais e é preciso de muita pesquisa para que conheçam sua descrição linguística e então registrá-las e documentá-las como Patrimônio Imaterial da Cutura Surda Brasileira. 

Por que conhecer o regionalismo em Libras?

É importante destacar que o regionalismo em Libras não é algo negativo, mas sim um reflexo da riqueza cultural e linguística do Brasil. Assim como as línguas faladas possuem variações regionais que enriquecem a diversidade linguística do país, o mesmo ocorre com Libras. 

Por isso, é fundamental que os intérpretes e os usuários de Libras estejam cientes dessas variações para garantir uma comunicação eficaz em contextos diversos.

Além disso, o reconhecimento da diversidade linguística em Libras ressalta a importância do ensino e da pesquisa nessa área, contribuindo para um melhor entendimento da língua de sinais brasileira em todas as suas nuances regionais.

Isso reforça também a necessidade de atualização constante e de uma especialização em Libras. Dessa forma, professores e intérpretes de Libras aprofundam conhecimentos no tema e se tornam aptos a dar uma maior contribuição na área da língua dos sinais.

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